9 May 2011

Sobre as sacolinhas...

Estava prevista para hoje a assinatura de um acordo entre o governo do estado e a Associação Paulista de Supermercados (Apas) para que as bolsas plásticas deem lugar a uma versão biodegradável, feita de amido de milho que, segundo o fabricante, demora 120 dias para se decompor. Embora não tenha caráter de lei, a regra conta com apoio de pesos-pesados do setor, como o Grupo Pão de Açúcar, o Carrefour e o Walmart. Segundo a Veja São Paulo desta semana, ninguém em sã consciência há de questionar a importância que a medida tem para o meio ambiente, principalmente diante do fato de que, no Brasil, são usadas por ano 135 milhões de sacolas.

Mas, antes, precisamos esclarecer as diferenças entre os plásticos, pois, como não poderia deixar de ser, vou ser estraga prazeres de novo e dizer que não existe plástico 100% sustentável. Segue um resumo dos diferentes tipos de plásticos (baseado em reportagem da Revista Época).

O plástico “verde”

É feito de cana-de-açúcar e foi desenvolvido no Brasil pela Braskem (http://www.embalixo.com.br/novo/).

Sua vantagem é usar uma matéria-prima que não se esgota. E captar carbono da atmosfera durante o crescimento da planta, o que teoricamente é bom para o clima do planeta. A Coca Cola colocou plástico “verde” em parte dos materiais usados para fabricar suas garrafas PET. A cana pode ser plantada em exaustão, mas tem um limite: a ampliação de seu cultivo toma terras que poderiam ser usadas para produzir alimento. E o plástico verde não é biodegradável.



O oxidegradável

Você já deve ter ouvido falar dele. Milagrosamente, ele dissolveria com a ação do tempo. É pura propaganda enganosa. Este plástico é feito a partir do petróleo e leva aditivos oxidantes que aceleram sua degradação. Ao contrário do que promete, ele não é biodegradável. Simplesmente se transforma em micro partículas. Vira pó. Seus fragmentos são carregados pelo ar. Vão parar nos rios, lagos e oceanos. Seu impacto talvez seja o maior de todos – principalmente por não ser percebido.

O de petróleo

Em sua fabricação, emite gases que contribuem para o aquecimento do planeta. Estima-se que este tipo se degrada no solo só depois de 400 anos. Ele virou vilão do meio ambiente, porque vai parar nos oceanos, asfixia golfinhos e tartarugas marinhas. Há uma ilha de plástico no meio do Oceano Pacífico. Ela tem uma área duas vezes maior do que a dos Estados Unidos. As sacolinhas chegam ali com as correntes marítimas.

O de milho

Este é o plástico do momento citado acima. Ele é feito à base de amido de milho, uma matéria-prima renovável e biodegradável. Na teoria, vira adubo quando enterrado. Mas, na prática, seu descarte é mais complicado. Precisa ser mandado para aterros específicos (com microorganismos especiais, luz, temperatura e reator adequados) para garantir a decomposição em um prazo máximo de 180 dias.

O reciclado

Uma alternativa ao plástico de petróleo é a sacola reciclada, feita a partir de materiais plásticos recicláveis. Sua vantagem é que ele não usa mais recursos não renováveis na produção. A desvantagem é no momento do descarte: ele tem os mesmos impactos ambientais do saquinho tradicional.


Agora que você já sabe a diferença entre elas, ainda deve estar se perguntando o que fazer com o lixo. Na realidade, seguindo a filosofia dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) a pergunta mais correta seria: o que fazer com o lixo orgânico? Logo teremos um post sobre práticas comuns do dia-a-dia para reduzir o lixo doméstico, mas vamos aos 3Rs da sacolinha para ajudar na escolha.


REDUZIR
Então, se temos que reduzir, a ideia é carregar as tais sacolinhas reutilizáveis para fazer as compras. Ou, para as meninas, com a moda das maxi bolsas, dependendo do que você for comprar e não tiver a tal da sacolinha, dá pra colocar o produto adquirido na bolsa facilmente.
Aí vêm os homens dizer: mas eu não uso bolsa... Que tal carregar na mão (dependendo do produto, é lógico!) ou ter uma sacolinha reutilizável no carro?



Tá, você estava na rua, saiu sem a sacolinha e precisa fazer uma compra grande no supermercado. Se tiver de carro, porque não deixar tudo solto no carrinho, colocar no porta-malas tudo solto e levar para casa? Lá você deve ter a sacolinha reutilizável (a que você esqueceu em casa) para ajudá-lo a carregar as coisas para dentro de casa (para quem mora em prédio, sempre tem o carrinho do condomínio). Ou peça caixas de papelão, muitos supermercados disponibilizam as caixas e você pode utilizá-la depois para colocar o lixo.
Ok, não teve jeito mesmo, você saiu a pé, esqueceu a sacola e teve que pegar as tais sacolas. Se você for comprar várias coisas em lojas diferentes, junte tudo na sacola da primeira loja. Prefira sacolas grandes nas quais você possa colocar o lixo e coloque o máximo de coisas dentro delas. E isso vale tanto para as sacolinhas plásticas como para as sacolinhas de amido de milho, porque, afinal, não é porque elas teoricamente se decompõem mais facilmente que você vai ficar desperdiçando, não é?

REUTILIZAR
O site da Plastivida (dos fabricantes das sacolas de plástico) dá ideias para a reutilização, que podem ser feitas com qualquer dos tipos de sacolinha acima. A conclusão é que, se você não quebra os braços e pernas frequentemente ou não tem muita indisposição, a melhor forma de reutilizar as sacolinhas é usá-la para mais compras (que somente uma) ou utilizar como saco de lixo mesmo, mas e aí?


Aí que, se utilizamos as sacolinhas para colocar o lixo, a sensação é até de alívio, afinal, parece que o problema não é mais nosso, pois reutilizamos as tais sacolinhas. Então, voltamos à história do ciclo dos materiais e que devemos pensar no material desde a extração, produção, uso, descarte e decomposição.


Extração e Produção
Uma pesquisa inglesa mostrou que a produção de sacolinhas plásticas é mais sustentável que as sacolinhas de papel ou sacolas de algodão. De qualquer maneira, é fato que, o algodão e o papel (reciclado ou não) vêm de fontes renováveis e, mesmo que a energia de produção dessas sacolinhas seja maior que a das sacolinhas de plástico, a própria pesquisa diz que as sacolas reutilizáveis devem ser reutilizadas mais de 100 vezes para valer a pena. Então, nada de ter quinhentos tipos de sacola reutilizável, e sim as necessárias para fazer as compras. Não encontrei dados comparativos entre a energia gasta na produção das sacolas de plástico oxibiodegradável, de milho ou de cana-de-açúcar.

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Descarte e decomposição
O plástico leva 300 anos para se decompor e o brasileiro utiliza uma média de 66 sacolas por mês. Duvido, mas duvido mesmo, que você ou eu tenhamos tanto lixo para encher as 66 sacolas por mês.
Mesmo que tivéssemos existem as alternativas da sacola oxi-biodegradável ou a de amido de milho citada acima. As duas, em teoria, se degradariam, mas já vimos que a oxi-biodegradável parece que causaria um perigo maior e a de milho tem que ser descartadas nos lugares certos. Aí eu me pergunto se os supermercados vão ser responsáveis pelo recolhimento das sacolinhas.

RECICLAR
Tá, então, se não há solução, se o mundo vai ficar entupido de sacolinhas de plástico, porque então não reciclamos a sacolinha?
Para os plásticos em geral, existe a reciclagem química, a mecânica e a energética e existe uma lista de coletores no site da Plastivida. O que se diz no site é que eles recolhem plásticos, mas não sei se necessariamente recolhem as sacolinhas.
O que sempre temos que lembrar é que não é porque um produto é reciclável que ele é necessariamente "ecológico" ou "sustentável". A reciclagem é uma atividade econômica como outra qualquer e para que um produto seja realmente reciclado, deve ser economicamente viável. A reciclagem também pode gastar colossos de energia, e, geralmente para os plásticos, o que ocorre não é a reciclagem mas o downcycling quando o plástico é convertido em um plástico de pior qualidade e por isso os novos produtos feitos com ele geralmente são mais tóxicos e não podem ser utilizados para alimentos (veja mais sobre downcycling no post da Coca-cola).

E ENTÃO?
Então, já deu para entender que não existe consumo sustentável, mas, se pesquisarmos, podemos ser menos prejudiciais ao meio ambiente.

E, voltando a pergunta inicial: onde colocar o lixo? Aí segue uma reportagem do blog da Gisele Bundchen:

O lixo seco, hoje, é basicamente composto por materiais recicláveis. Esses podem e devem ser separados e encaminhados à reciclagem. Aqueles que têm coleta seletiva em seus bairros, ou observam catadores de recicláveis trabalhando, ou, ainda, têm a possibilidade de levar seus recicláveis para uma estação que os destina para a reciclagem, podem separar seus recicláveis em caixas (ou mesmo sacos grandes), depositá-los e reutilizar as caixas ou sacos em outras viagens. É sempre interessante observar como esse novo hábito vem sendo criado em outros países. Com o lixo orgânico, infelizmente, no Brasil, não temos alternativa ainda: ele precisa estar acondicionado em um saco plástico. Mas observem que, ao usar sacos plásticos só para lixo de cozinha e de banheiro, sem acondicionar peças grandes como embalagens em geral, já reduzimos significativamente a quantidade de sacos necessários. Se houver a possibilidade, sugerimos a compra de sacos de lixo feitos de material reciclado (que retiram plástico da natureza) ou biodegradáveis.

Ou, como sugere a matéria da folha, sobre as sugestões de alternativas às sacolas plásticas :
De acordo com o Instituto Akatu, que defende o consumo ambientalmente consciente, uma opção é comprar sacos plásticos recicláveis de lixo. Aqueles de cor preta, à venda em todo o comércio.

Como o plástico demora séculos para parar de poluir o ambiente, jogar plástico dentro de plástico, prática comum, é uma espécie de crime ambiental, segundo os especialistas.

Nesse caso, a solução é usar sacos feitos com dobradura de jornal. No caso de lixo orgânico, basta colocar dois ou três sacos de papel para fazer com que o lixo não vaze.


1. Faça uma dobra para marcar, no sentido vertical, a metade da página da direita e dobre a beirada dessa página para dentro até a marca, e assim terá um quadrado;

2. Dobre a ponta inferior direita sobre a ponta superior esquerda, formando um triângulo;

3. Dobre a ponta inferior direita do triângulo até a lateral esquerda;

4. Vire a dobradura e, novamente, dobre a ponta da direita até a lateral esquerda;

5. Para fazer a boca do saquinho, pegue uma parte da ponta de cima do jornal e enfie para dentro da aba que você dobrou por último, fazendo-a desaparecer lá dentro;

6. Sobrará a ponta de cima que deve ser enfiada dentro da aba do outro lado, então vire a dobradura para o outro lado e repita a operação;

7. Abra a parte de cima e você verá o saquinho pronto!

8. Agora é só encaixar dentro do seu cesto de lixo e abandonar de vez o saco plástico

Enfim, a decisão é nossa, de sempre nos informar e desconfiar de pesquisas ou notícias que só vêem um lado da história. Ah, e esse tópico vem a coincidir com o lançamento próximo do filme Bag it: is your life too plastic? do Michael Moore, cujo trailer já está disponível na internet. Espero que ele ajude também a compreendermos o nosso lugar no mundo...





Fontes: Planeta Sustentável, Plastivida, Gisele Bundchen


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